Um dia acordei com uma vontade
imensurável de ser feliz! E o que era ser feliz???
Mas eu era feliz...
E de repente a dúvida me fez refém. E se eu não
fosse feliz? E se eu estivesse enganada durante todos esses anos? E se eu nem
soubesse o que era a felicidade?
Quis então, certificar-me de que
podia julgar-me feliz.
Fiz meu ritual matinal com mais
pressa do que de costume, pois tinha que correr. A felicidade não espera.
Tinha urgência em sanar minha dúvida.
Mas como?
Durante o café da manhã fui
tentada a perguntar a cozinheira, qual seria seu ideal de felicidade. Mas achei
que seria uma invasão e simplesmente comecei o diálogo matinal de sempre. Entre
uma e outra instrução doméstica não me contive e puxei assunto bisbilhotando a felicidade alheia:
Foi quando ela me fez uma
narrativa de seus dias (segundo ela) de felicidade.
“...Aos domingos (geralmente o último domingo do
mês) vamos à praia ( 210 KM de nossa
cidade) de ônibus. Eu, Orlando, minha sogra, a Gorda (cunhada), e os meninu tudo.
Levo meu franguinho, minha
farofinha, dois litro de coca, e saímu daqui as 4 da matina,
passamu o dia na areia escaldante,
sol queimando a mulera, mininada correndo sem parar, Orlando bebendo sua
cervejiiiinha. Uma festa... Voltamu
sempre depois das 17h30min min (de
ônibus) todo mundo assado do sol, Orlando bêbado, a Gorda brigando com os
meninu e minha sogra reclamando da demora em chagar em casa, por que ta enjoada
e precisa fazer o nº 3...”. O relato demorou bem mais que isso claro, pois
Marinete falava muito. Mas a esta altura, eu já me dava por satisfeita e sabia: Marinete era feliz. Nunca me ocorreu o
contrário. Ela era feliz.
Entrei no meu carro, liguei o
rádio, deixei minha filha na escola, e atravessei toda a cidade rumo ao meu
trabalho. Durante todo o percurso estive pensando na vida de Marinete. E ela
era feliz.
Passava das 07h30min quando
cheguei ao meu trabalho. Bom dia pra cá,
bom dia pra lá, todos dando início ao dia de trabalho, conversando, rindo
fazendo uma piada ou outra, para começar um dia realmente bom; então chega seu Ivan.
Seu Ivan é um senhor que trabalhava na empresa havia mais de 30 anos, é o mais velho
e também o que tem mais tempo na empresa, já poderia se aposentar, se assim o quisesse
(isso também era um enigma para mim).
- Bom diiiiia seu Ivan! Disse algum outro colega, já sabendo que não
ouviria um “bom dia “ de volta.
Silêncio. Seu Ivan não gostava de “bons dias” não era
chagado a sorrisos nem dado a brincadeiras. Durante os anos que trabalhamos
juntos, acho que o vi sorrir uma ou duas vezes, e isso deve ter sido um descuido
dele.
Então imediatamente minha dúvida
tomava meus pensamentos de novo.
Será que eu era feliz??? Por que
certamente, e isso era claro e evidente, seu Ivan não era. Ele era um senhor de
quase 60 anos, magrinho, cabelos grisalhos e usava um óculos que lhe pesava
ainda mais o semblante, era bem sucedido
financeiramente, tinha filhos adultos mestrandos ou pós-graduados, um bom
Apartamento, carro do ano, gozava de boa saúde, fazia uma viagem ao exterior
por ano, tinha uma esposa inteligente, bonita e igual bem sucedida... Enfim, seu
Ivan tinha uma vida tranquila sem garndes problemas ou quase nenhum imaginava
eu. Tinha tudo para ser feliz... Mas não
o era. Ele não era feliz.
Para mim havia ficado claro o
que era a felicidade.
Cheguei a feliz conclusão que:
Não há motivos para a felicidade, só desejo. A felicidade existe dentro de nós,
e não no outro. A felicidade está dentro de cada um, esperando para ser
exercitada, esperando que a gente deixe ela sair, se manifestar, se estabelecer
em nossas vidas.
Que bom que a felicidade de
Marinete não dependia de dinheiro.
E que triste que seu Ivan tenha
tido uma vida tão agradável e não a tenha notado. Que triste que seu Ivan,
atravessou toda sua vida sem deixar a sua felicidade sair.
Mas e eu? Eu estava feliz, e já
era feliz há bastante tempo, aliás... Desde que decidi e optei pela felicidade
(um segredo: a felicidade não mora ao lado, ela mora dentro).
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