Nunca fui uma pessoa extremamente corajosa, mas também nunca fui mulher de fricotes e muito menos de ter medos descabidos.
Moro em uma casa grande de dois pisos em um condomínio que possui vigia, câmeras de segurança, cerca elétrica... enfim, todo o aparato necessário para dificultar a vida de um eventual "intruso".
Estou habituada ficar sozinha em casa, meu marido viaja muito. Portanto, vira e mexe, lá estamos eu e minha filha sozinhas.
Em uma dessas ocasiões, combinamos que alugaríamos alguns filmes, compraríamos pipoca e muitas besteirinhas, e faríamos da nossa sala de TV, uma sala de cinema. Assim fizemos.
Traçamos o nosso itinerário: Supermercado, locadora, pizzaria, casa, sala de TV.
Na locadora surgiu a dúvida: deveria ser uma sessão de filmes de comédia ou terror? Decidimos pelos dois. Estávamos aptas para uma verdadeira farra, com direito a muita pipoca e chocolate.
Dez horas da noite já estávamos as duas esparramadas na sala, cada uma com sua bacia de pipoca assistindo um filme de terror/suspense - que não lembro qual era (todos tem o mesmo teor) um maníaco correndo atrás de suas vítimas mais burras que indefesas.
No final do primeiro filme sugeri que o próximo deveria ser uma comédia, mas acabei cedendo aos apelos da minha filha e aceitei outro suspense/terror. Já não estava muito à vontade. Uma chuva forte caía lá fora e eu já estava impressionada com tanto grito, fuga, sangue e besteirol do filme anterior.. Fazer o quê né? Estava mesmo com medo. Fim do segundo filme.
Eu, de posse de toda minha autoridade maternal, informei que a sessão terror havia acabado. Íamos dormir, ou pelo menos EU tentaria dormir. Mandei que minha filha subisse e desse início ao ritual pré cama; eu subiria mais tarde, pois tinha a missão de fechar a casa.
Nesse momento meu medo já havia dimensionado o tamanho do problema que eu enfrentaria.
Molho de chaves na mão, comecei a me certificar que nada e nem ninguém entraria naquela casa. Tranquei os portões ( 2), depois tranquei a grade que dá acesso a porta principal, a grade que dá acesso pela lateral, a grade dos fundos, porta da sala, porta da cozinha, a do corredor e a porta que dá acesso a parte de cima da casa. Estávamos de fato seguras. Seguríssimas. Mas eu, loira e mãe precavida, peguei todas as chaves e as tranquei dentro do meu guarda roupa no meu quarto.
PERFEITO, poderíamos então dormir em paz.
PERFEITO, poderíamos então dormir em paz.
Fui para o quarto de minha filha, dormiria lá naquela noite juntas e trancadas. TRANQUEI a porta do quarto dela - óbvio - não faria sentido deixar aberta, me assegurei de dar duas voltas na chave. Enfim, dormimos. Seguras, trancadas e completamente convencidas de que eu havia garantido toda a segurança da casa naquela noite chuvosa.
Eis que na manhã seguinte acordei com meu celular tocando insistentemente, era a cozinheira. Ela estava chamando pelo interfone e eu não tinha ouvido. Ela precisava entrar. Levantei meio cambaleando e abri a porta do quarto (tentei), girei a maçaneta... a porta não abriu; virei a chave na fechadura outra vez. Nada. A porta não abria. Tirei a chave da fechadura e veio a constatação: a chave havia quebrado dentro da fechadura. Estávamos trancadas, atrás não de uma porta, mas de 9 portas ou melhor 10 portas contando com a porta de chave quebrava. Foi quando minha ficha caiu, as chaves de todas as portas da casa estavam em outro quarto, trancadas dentro de um guarda roupa.
Abri a janela do quarto e de lá pude ver somente as perninhas da cozinheira, lá longe... atrás de tantos portões e grades, ela mal me ouvia e não me via.
Gritei desesperada para vizinha, PRECISO DE UM CHAVEIRO, e aos berros narrei rapidamente que eu não poderia sair e que ninguém poderia entrar, explicando o episódio das chaves insisti: "preciso de um chaveiro". Ela cheia de razão, berra de lá: "Não, você não precisa de um chaveiro. Precisa de um psiquiatra, mas por ora basta um chaveiro." Quase morri de vergonha.
Enfim o chaveiro chegou e constatou que uma das dez portas deveria ser arrombada, pois a maneira que a tranquei impedia que fosse aberta até mesmo pelo chaveiro. Fiquei ali então, tentando ouvir cada porta sendo aberta.
Quando chegaram ao quarto onde eu estava, foi um alívio. Me senti como um donzela sendo resgatada, nesse caso o príncipe não tinha espada e cavalo branco, mas uma ferramenta mágica, que abria portas (chaves de fenda e pés de cabra).
Quando chegaram ao quarto onde eu estava, foi um alívio. Me senti como um donzela sendo resgatada, nesse caso o príncipe não tinha espada e cavalo branco, mas uma ferramenta mágica, que abria portas (chaves de fenda e pés de cabra).
Hoje, além de loira e mãe precavida, sou uma mulher que tem na bolsa cópia de todas as chaves da casa.
MINHA MÃE!
ResponderExcluirAdorei a narração, mas fiquei PREOCUPADO! ahahahah.
Lindo Pea.
kkkkkkkkkk pensei que só eu fosse medrosa!!! Amei!!! E minha mente formou balõezinhos onde se passava a história!!! kkkkk
ResponderExcluirPea, adorei o seu texto. Gosto dessas histórias de família, muito engraçados no final das contas.
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