Fábrica de Imaginação

As ondas lambem a areia com tanta liberdade, sem pedir lincença ou acanhar-se. Invadem docemente o espaço que ocupo, trazendo junto com a espuma branquinha uma lembrança diferente a cada lance.

É um vai e vem ritmado, refletindo o sol, esse já no finzinho, saindo de cena, indo embora, dando espaço para a lua sorrir.

Então fico aqui largada na minha imaginação. E como imagino. Imagino muito, imagino tudo, e continuo imaginando. Minha imaginação parece uma fábrica de sonhos, nem todos perfeitos é claro!

Imagino, relembro, sonho, fantasio...Dou o nome que quiser para todas essas emoções que permeiam meus pensamentos agora. Um torpor sem limites me invade. E eu continuo aqui entorpecida, mas imaginando. Imagino como seria eu e você  (imaginação previsível essa). Imagino tanto que me perco entre ilusão e realidade,  chego a esquecer que eu e você um dia fomos nós, um plural cheio de nó...Hoje desatados.

Chego a esquecer que  você gostava de rock e eu cantava blues.

Esqueci de como eu era e como era você. Ás vezes esquecer cai bem, meu bem.

Ai! Quantos pensamentos malucos, um vai e vem frenético de lembranças, algumas na contra-mão incomodando a minha paz conquistada nessa tarde vermelho - alaranjada, lembranças com sabor de limão.

Algumas lembranças nobres rasgam minha mente num atentado violento ao presente. Por que o passado não quer ficar calado hein???

Fecho o baú. Coloco a tampa  na *caixa de sapato (cheia de recordações, que devem permanecer aí dentro), limpo a mente. As ondas já não chegam mais em meus pés. 

Na verdade ja anoiteceu... A lua não veio, ainda. Lá no horizonte ainda vejo uma nuance de avermelhado deitando sobre o mar...Dentro de poucos segundos a noite terá tomado conta por completo do céu. As  lembranças se foram, ficou para mim o presente, a realidade, o inteiro, o definitivo. 

Aprendi uma coisa hoje, uma coisa bem boba na verdade: Alguns sonhos não devem ser sonhados, e alguns desejos devem ser de fato resgatados. Uma coisa anula a outra.