Poemas participantes da enquete ( Em teste )

3 de novembro de 2013

Analua




Analua tinha qualquer coisa entre 20 e 30 anos. Impossível precisar, pois seu rosto tinha sempre a mesma expressão de nada.
Era a pessoa mais certinha da qual já se ouviu falar  e a mais sem graça também. Estava sempre de acordo com o relógio, que aliás era sempre pontualíssimo tal qual chá das cinco na Inglaterra.

Analua acordava  todos os dias pontualmente no mesmo horário, abria os olhos, sentava-se à beira da cama e num gesto automático calçava os chinelos que já haviam dormido na posição de serem calçados na manhã seguinte. Tudo na vida de Analua era calculado, programado como se houvessem fórmulas matemáticas para tudo. Ela não gostava de surpresas, não admitia sustos, não conhecia riscos e não se permitia ter dúvidas - "Assim a vida fica mais fácil" - dizia ela mecanicamente quando questionada sobre o assunto.

Analua, não era feia e nem era burra, só era... automática demais.

Comprava todos os dias a mesma quantidade do mesmo pão na mesma padaria no mesmo horário, em casa tomava seu café com leite morno sem atraso nem antecipação.
Devidamente vestida e penteada dizia:  "até meio dia"!  E lá ia Analua caminhando pela rua sem pressa alguma, pois estava no tempo previsto.
E assim Analua ia vivendo na garantia que não teria com o que se preocupar, tudo estava a contento,  nada precisava mudar. Ela sabia de seus dias de cor e salteado. Até que um dia...Analua conheceu a poesia.

Foi num desses dias uniformizados, pintados de uma cor só, durante sua rotineira ida à padaria.
Analua percebeu voar, carregado pelo vento, alguns papéis que pareciam dançar soltos no céu. Planavam  de um lado para o outro  tão docemente que seus olhos não conseguiam parar de olhar...Num gesto instintivo, levantou a mão e esticou-se toda... pontinha do pé, e agarrou uma das folhas contrariando assim, tudo aquilo que ela prezava e fazia questão de preservar, o previsível.

Olhou as letrinhas desenhadas no papel voador e...

...Analua leu baixinho:

" A COMEÇAR PELO AMOR

Se nos entregássemos
às boas coisas que
o coração pede
a começar pelo Amor
de tanta felicidade talvez
o sol voltasse a girar
ao redor da terra "

 

Barros Sobrinho





Analua, havia feito algo que não planejara com antecedência e nem medira os riscos... E nada mais restava-lhe senão,  viver as consequências.
Nesse momento então, alguma coisa aconteceu. 
Nem ela nem ninguém soube explicar, mas Analua não era mais a mesma. 

Atrasava-se todas as manhãs pois levava horas se arrumando...Dormia tarde todas as noites, lendo  Hilda Hilst. Ouvia música alto  e às vezes dançava sem música. 
Analua agora pintava a boca, e adorava sentir o frio a grama ou a terra em seus pés (uma vez chegou a perder os próprios sapatos). 

Ela passara  a viver num mundo de desordem emocional e caos amoroso.  Amava o poeta que não conhecia, amava-o através de sua poesia. E jamais iria conhecer, não sabia quem era, nem onde morava nem para quem ele poetava.

Analua então, decidiu mudar seu nome. À partir daquele momento seria apenas LUA, aquela que mantém um caso de amor com todos os poetas.
E em noites de lua cheia, ela brilharia no céu para inspirar o seu amor.







PS.: A COMEÇAR PELO AMOR - autoria -  Barros Sobrinho

2 comentários:

  1. Adorei! Os poetas são assim! E quem por eles se apaixona sem os conhecer... também!

    Um beijo para ti!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, poetas são sonhadores.

      Beijos para vc meu querido amigo.

      Excluir

Quem sou eu

Gosto de escrever. Escrever para mim é uma necessidade, uma cura. Escrever é um ato de extrema entrega, é de dentro pra fora. Escrevo por urgência, escrevo por amor e com amor. Sou imediatista, intensa, e sonhadora! Defeitos? Tenho muitos, incontáveis talvez; melhor nem dizê-los.; Tenho uma alma sonhadora. Sonho, e como sonho...

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