O ano era 1987, e era o inverno mais rigoroso que ela já vivera até ali. Estava em um vilarejo na província de Hokkaido, uma ilha ao norte do Japão, não sabia ao certo quanto tempo deveria ficar, mas certamente um longo tempo.
Alice era um pouco mais que uma menina, tinha vinte e poucos anos e uma ingenuidade quase duvidosa.
Era falante, alegre e freqüentemente tinha ataques de risos
espontâneos e inexplicáveis, ela era feliz, já nascera feliz, não
precisava de motivos para isso.
Estava ali por causa de um trabalho voluntário, e não sabia ao certo quanto tempo permaneceria.
Já estabelecida, acordava todos os dias com um leve tremor de terra, e achava que as paredes iriam ruir sobre si; mas isso logo passou a ser rotina, e consequentemente já passava despercebido.
Olhava pela janela e podia ver um lençol branco de neve estendido pela rua, era tão branquinho, que mais tarde quando tivesse que pisá-lo teria pena.
Os dias eram de cor cinza, tudo era cinza por ali, inclusive o humor das pessoas daquele lugar.
O sol não chegava a sua janela, mas ela sabia que o sol de Hokkaido era frio.
As noites eram escuras, frias e assustadoramente silenciosas.
Os dias eram de cor cinza, tudo era cinza por ali, inclusive o humor das pessoas daquele lugar.
O sol não chegava a sua janela, mas ela sabia que o sol de Hokkaido era frio.
As noites eram escuras, frias e assustadoramente silenciosas.
Morava sozinha, e gostava disso. Tudo aquilo era temporário. Sabia que quando terminasse o que fora fazer ali, teria que voltar, e essa certeza indiscutível apertava-lhe o peito.
Gostaria muito de ficar ali para sempre. Era a primeira vez em pouco mais de vinte anos, que sentia-se parte de algo; sentia-se em casa, era como se sua alma fosse japonesa. Sabia ser aquele, o seu lugar.
Mas como tudo na vida é passageiro, sua missão em Hokkaido acabara após quatro inesquecíveis anos. Estava então totalmente adptada, falava japonês fluentemente, inclusive com sotaque japonês. Agia como se de fato fosse uma cidadã japonesa.
Então, chegada a hora de partir, Alice deixa no Japão metade de sua alegria, uma parte do seu coração, talvez um dia ainda voltasse ali, para reencontrar-se.
Linda crônica, Pea.
ResponderExcluirBeijos.